Para as crianças perdidas de Cabo Delgado, voltar à escola é um sonho a desvanecer

Para as crianças perdidas de Cabo Delgado, voltar à escola é um sonho a desvanecer

  Na província moçambicana de Cabo Delgado, afectada por conflicto armado, crianças e jovens estão a ser privadas de educação pela insurg

 

Ivaldo Quincardete, the Provincial director of Education in Cabo Delgado during the an interview with Luis Nhachote

Na província moçambicana de Cabo Delgado, afectada por conflicto armado,
crianças e jovens estão a ser privadas de educação pela insurgência fundamentalista
que começou em 2017.

Luis Nhachote em Cabo Delgado

Abdul*, de 12 anos, frenquentava a quinta classe na escola primária da aldeia Nova Zambézia, em Macomia, quando os sons de disparos se fizeram ouvir no campo de futebol.
No meio do pánico que se seguiu, Abdul encontrou a sua família também em debandada,
juntando-se à fuga sem diminuir a velocidade, que o carregou para um lugar seguro: mata
adentro. Actualmente, encontram-se na aldeia de Muaie, em Ancuabe, um distrito que
dista 100 km a sul da sua casa mas ainda em Cabo Delgado.
Esta regisão ainda não foi visitada pelo conflicto, mas funciona como um refúgio para
muitos dos que, como Abdul e sua família, foram deslocados pela violência. Por ora,
Abdul está salvo mas deseja voltar à escola.
Em Cabo Delgado, cerca de 300 escolas foram parcial ou completamente destruidas e 98
mil alunos ficaram sem qualquer perspectiva de brevemente continuarem os seus estudos.
Segundo dados oficiais, o conflicto deslocou 1.736 professores.
Não é nenhuma surpresa que a insurgência tenha como alvo escolas – na relativamente
negligenciada província de Cabo Delgado, as escolas eram um dos poucos exemplos
significativos de infrastrutura estatal. Ademais, uma das poucas exigências que a
insurgência articulou foi de que o povo de Cabo Delgado devia parar de enviar suas
crianças para escola. Em Palma – o distrito que acolhe o projecto multibilionário de gás
que os insurgentes atacaram em Março último, descambando na intervenção militar
estrangeira – fugiram 7-500 alunos e 1.700 professores. Apenas 113 dos professors
regressaram, apesar da presença de tropas ruandesas, que correram com a ocupação
insurgente e restauraram a paz e controlo governamental do distrito. E só 12 das 43
escolas do distrito reabriram.
Entretanto. Em Macomia, distrito natal de Abdul, apemas 13 das 54 escolas é que
reabriram, mas ele e muios outros alunos não estão prontos ou mesmo capazes de
regressar.
Heba, de nove anos, também fugiu de Macomia há três anos. Ela agora vive num centro
para pessoas internamente deslocadas em Montepuez, mais de 200 km a sul da aldeia que
sua família chama de casa.

Heba frequentava a quinta classe quando teve que interromper as aulas. O seu sonho é de ser uma médica para “curar as pessoas”, mas está em banho
maria porque, segundo ela, “Al Shabab destruiu tudo”.

Ela também estava na quinta classe quando a insurgência virou a sua vida. O seu sonho é de ser uma médica “para ajudar a curar as pessoas” – mas em Cabo Delgado tais sonhos estão em banho maria. “Al Shabab destruiu tudo”, disse.
Também em Montepuez vive Karima, de 14 anos, proveniente da vila de Chinde,
próximo à Awasse, uma vila num entroncamento chave que foi contestado com unhas e
dentes pelos insurgentes e forças governamentais. Um dia, Karima e sua família ouviram tiros e fugiram para a mata, onde se esconderam durante dois meses. “Não levei nada comigo,” disse. “Nenhuma roupa, nenhum livro”.
Eventualmente, a sua família chegou à Montepuez. Mas ela deseja voltar à escola para
“ser alguém”, disse.

Aprender debaixo das árvores

Para aquelas crianças que podem ir para escola em Cabo Delgado, muitas estudam ao ar
livre. O número de aulas ao ar livre cresceu em 15 porcento em 2021, de 777 em 2020
para 893 em 2021, o director provincial da educação, Ivaldo Quincardete, disse ao The
Continent, numa entrevista in Pemba.
Quando Quincardete se apercebeu que o The Continent ía também visitar a bebé Awa,
que nasceu num barco que trazia a sua mãe para a relativa paz de Pemba, ele disse que a
sua direcção queria oferecê-la uma bolsa. O The Continent reportou a estória da bebé
Awa há dois anos. Ela e a mãe vivem agora no bairro de Paquitiquete, onde os deslocados
foram acolhidos.
Para Awa, ao menos lhe aguarda alguma educação – mas as autoridades ainda têm muito
a fazer para reconstruir a infrastrutura educacional de Cabo Delgado.
E regressaram à sua aldeia natal de Pangane, que deixaram em Outubro de 2020, é ainda
um sonho distante. 

*Todos os nomes das crianças entrevistadas para esta estória foram mudados. Os seus nomes reais são conhecidos pelo The Continent.

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