Guebuza conheceu Nhangumele depois da festa dos seus 70 anos

Fact Check

Armando Guebuza no dia do seu 70 aniversario Por Luís Nhachote Entre as várias declarações de Jean Boustani no seu julgamento terminado na pass

Armando Guebuza no dia do seu 70 aniversario

Por Luís Nhachote

Entre as várias declarações de Jean Boustani no seu julgamento terminado na passada sexta-feira, no tribunal de Brooklyn, em Nova Iorque, no caso movido pela acusação americana, a revelação da sua participação no septagéssimo aniversário de Guebuza e, o posterior alegado encontro levantam uma penumbra: que o ex-chefe de Estado conheceu Téofilo Nhangumele poucos dias depois do seu aniversário.

O Centro de Jornalismo Investigativo (CJI) faz nesta matéria o Fact Check* da cronologia de acontecimentos que vão das declarações de Jean Boustani (no tribunal), de Armando Guebuza (na incendiária reunião do Comite Central) e da carta que Téofilo Nhangumele (a Antonio Carlos do Rosário)

Das declarações de Jean Boustani

No volt face que o levou a falar (aparentemente a defesa o faria no seu lugar e ele tinha o direito de se manter calado, querendo) num dos momentos mais badalados do julgamento de Boustani de 41 anos, nascido em Beirute em 1978, em plena guerra civil, numa família cristã maronita, foi o seu envolvimento nas negociações com Téofilo Nhangumele ou Nguila Guidema iniciadas em 2011. E, o que desse ano, foi se sucedendo a posterior até à alegada ordem de Iskandar Safa o mandar vir a Maputo em 2013 para a pomposa festa do aniversário de Guebuza …que teve as honras dos contribuintes no directo proporcionado pela Televisão de Moçambique (TVM) no dia 20 de Janeiro!

Após a festa, a missão de Bostani seria bem sucedida, ao conseguir finalmente, se encontrar com Armando Guebuza, ido pela mão de Armando Ndambi Guebuza aos aposentos presidenciais para desbloquear os impasses que se estavam a registar. De acordo com o Jean Bosutani, qual mister mind, dada a abertura de Guebuza no alegado encontro, revelou-lhe que havia iniciado a negociação com alguém chamado Teófilo Nhangumele, que disse que agia em nome do Presidente da República e que tinha pedido 50 milhões de dólares que seriam partilhados com o Presidente.

“Ele ficou gelado. Perguntou ao Júnior, em português, quem era esse Nhangumele. Ele respondeu que ‘não sei. Foi-me apresentado pelo Bruno Langa’”

Foi com as palavras acima que Jean Boustani explicou ao juiz da aversão do ex-estadista em esquemas de corrupção. “Falei com o Júnior e expressei a minha frustração. Disse que ‘já passam 2 anos a falar com bancos e autoridades de Abu Dhabi e nada avança. Se fosse possível arranjar um encontro com o seu pai para dar explicação…’”, contou o empregado de Iskandar Safa e executivo da Privinvest, a quem Ndambi teria prometido facilitar um encontro na festa de aniversário de Armando Guebuza, a 20 de Janeiro de 2013.

“Encontrei-me com o Presidente Guebuza na festa do seu aniversário. Eram 70 anos. Falei detalhadamente sobre tudo o que estávamos a tentar fazer desde 2011. Enfatizei a estratégia de protecção costeira”, narrou.

“Ele disse que o projecto era bem-vindo. Falou-me da sua visão sobre Moçambique. Disse-me que era general e antigo combatente da luta de libertação nacional e que agora faltava garantir a independência económica do país. Disse que estava em fim do mandato e queria deixar isso como seu legado. E pediu-me para ir ao seu escritório no dia seguinte. E lá fui com o Armando”.

No dia seguinte, uma segunda-feira, Boustani afirmou ter ido ao gabinete do então Presidente da República a quem informou que o projecto teria andamento e que o focal point seria alguém sénior dos serviços secretos (António Carlos do Rosário) que o iria contactar.

“Eu falei-lhe de Abu Dhabi, da relação de Safa com a família real, do valor acrescentado que a Privinvest iria trazer a Moçambique e da visita de Estado que iriamos preparar para ele em Abu Dhabi para poder conhecer um pouco da Privinvest, fazer o seu due diligence e encontrar-se com a família real”, contou.

“E ele virou-se para mim e disse: estamos a falar de grandes coisas. Da segurança do país, de armas, de coisas sérias. Ninguém pode levar um centavo, nem um! Qualquer um que pedir [suborno] venha até a mim e diz quem é”, afirmou o empresário.

Entretanto, apesar da orientação de Guebuza, Jean Boustani disse que “ele e Iskandar Safa decidiram que a iriam pagar cinco por cento de todo o projecto da Proindicus a Teófilo Nhangumele e Bruno Langa, pelo papel que estes desempenharam de levar Boustani até ao Ndambi Guebuza e por conseguinte poder chegar ao seu pai, Armando Guebuza”. As menções retremencionadas das conversas foram transcritas dos serviços do Centro de Integridade Pública (CIP) . Boustani contou ainda que no encontro realizado na Presidência da República, supostamente, a 21 de Janeiro de 2013, Armando Guebuza teria formulado cinco pedidos a Privinvest: “Contribuir para melhorar a segurança nacional, atrair investimento de Abu Dhabi para todos os sectores e não somente para o sector de petróleo e gás, trazer investimento da Privinvest em muitos sectores em Moçambique, apoiar Júnior a crescer como homem de negócios e apoiar a Frelimo”.

Do ulular de Armando Guebuza

O antigo presidente da República, Armando Emilio Guebuza, na celébre reunião do Comité Central da Frelimo, realizada entre 3 a 5 de Maio disse não conhecer Téofilo Nhangumele. Guebuza respondia a uma questão do Oscár Monteiro de como se teria deixado “enganar” por Nguila Guidema que é tido como peça que terá estabelecido as conexões entre as figuras estrangeiras envolvidas no calote e, membros do Governo dirigido pelo ex-presidente. Guebuza disse o seguinte se pode ouvir num áudio viral que inundou a praça: “O camarada Óscar foi enganado para vir aqui dizer que eu conheço Nhangumele (Teófilo), que eu deixei Nhangumele enganar-me. Eu não conheço quem é Nhangumele, não trabalhou na Presidência da República. Se trabalhou foi sem meu conhecimento e aquilo que eu conheço de Nhangumele é aquilo que aparece nas redes sociais e nos jornais”.

Armando Guebuza sublinhou repetidas vezes que “não fui enganado por ele porque não o conheço. A não ser que ele tenha encontrado outras vias para me enganar. Eu vi o nome de Nhangumele pela primeira vez, quando vi a lista daqueles que estavam detidos”.

Dai que, questionou Armando Guebuza, “não será que muitos camaradas nossos não se estarão a orientar apenas com base naquilo que lê para agravar situações e gerar conflitos entre nós? Será que é o Óscar sozinho que aceitou aquilo que leu e aquilo que ouviu de que eu conheço Nhangumele e mais do que isso, que ele me orientou? Eu não conheço Nhangumele e seja o que for, não penso que seja de bom tom, virarmos as costas para frente e estarmos sempre a pensar naquilo que aconteceu antes! Termino dizendo que eu penso que o problema da unidade é muito sério”.

 

Da carta de um desencantado com 8.5 milhões de dolares…

Numa missiva expedita a 25 de fevereiro de 2013, ao Conselho de Administração da Proindicus, Nguila Guidema,  um inveterado por viaturas de alta cilindrada, exigia ser pago (mais 500.000 doláres americanos acima dos 8.5 que ja havia encaixado) por ter

“1.a) Venho trabalhando neste processo desde finais de 2011 tendo para o efeito desenvovido todo o trabalho técnico relativo ao projecto, incluindo as viagens necessária de “Due diligence”à Alemanha e Abu Dhabi”.

Na carta, cujo destinatário é António Carlos do Rosário (O Individuo A, no relatório da Kroll), Nhagumele é explicito na cobrança do que achava que lhe era devido por

“2.b) Elaborei e defendi a motivação perante Suas; Excelencias os titulares das Forças de Defesa e Segurança e perante sua Excelência o Presidente da República para a aprovação do projecto ( Nota do Editor, o sublinhado é da nossa responsabilidade editorial).

Este facto deixa cair por terra as lamentações de Armando Emilio Guebuza proferidas em Maio na Matola. Não há ranger de dentes que o desminta.

Prossegue Nhangumele na missiva dizendo que:

“3.c)Trabalhei na identificação do financiamento para tornar este projecto financeirmante possível.

4.d) Criei e registei o nome Proindicus e participei na criação da empresa

5.e) Custeei todas as despesas relativas ao transporte pessoal, impressão de documentação, duplicação e encadernação de todas as várias apresentações feitas, a todos os níveis para tornar este projecto possível.”

A 24 de Abril de 2013, portanto dois meses e um dia depois, Rosário na qualidade de PCA da Proidicus indeferiu o pedido do Nhangumele com a justificação de não era da responsabilidade da empresa pagar lhe “a renumeraçao pretendida em virtude da empresa ter sido constituida posteriormente à realizaçao do referido trabalho”……

Entre a data que Nguila Guidema exige ser pago (25 de Fevereiro, mostra que da data em que Jean Boustani alega ter ido ao Papa Guebuza (20 e 21 de Janeiro) o intervalo é muito rápido (34) dias onde estes estabeleceram contacto.

Fica deste modo explicito que a consagração dos alegados própositos de “defesa da soberania” passou a ser um assunto de “urgencia, urgentissima” para o rol de intervenientes revelados na planilha de subornos da Privinvest.  

*Fact Checking, o que é_?

O fact-checking é uma checagem de fatos, isto é, um confrontamento de histórias com dados, pesquisas e registros. Se um político jura que nunca foi acusado de corrupção, há registros judiciais que irão atestar se é verdade. Se o governo diz que a inflação diminuiu, é preciso checar nos índices se isso realmente ocorreu. E se uma corrente diz que há um projeto de lei para cancelar as eleições, é preciso conferir nas propostas em tramitação se essa informação é real.

De acordo com a Agência brasileira Publica de jornalismo investigativo, “O fact-checking é uma forma de qualificar o debate público por meio da apuração jornalística”. De checar qual é o grau de verdade das informações. Reportagens do Buzzfeed e do The Guardian, por exemplo, mostraram que boa parte do conteúdo compartilhado na internet durante as últimas eleições nos Estados Unidos vieram de sites de notícias falsas. Situação semelhante aconteceu no Brasil na semana do impeachment de Dilma Rousseff.

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